Foram muitos anos a ver o Avô não sair de casa sem o seu chapéu. E pelo chapéu que escolhia, adivinhava-lhe as voltas que ia dar. O de palha de aba larga se fosse tratar do quintal, os de feltro já russos se fosse algures muito perto, e o chapéu preto de feltro, que dizia que era domingo, ou que o Avô ia a um sítio especial.
Agarrava-os pela copa, com o indicador e o polegar, e pousava-os no alto da cabeça, onde parecia que já tinham o encaixe marcado, porque não se lhe mexiam mais.
O Avô não sabia que não se agarram os chapéus pela copa. Nem eu tão pouco o pude avisar. Hoje, os chapéus dele ainda têm a forma dos dedos lá espetados. Aquele gesto que os deformava, acabou por deixá-los comigo (os dedos dele pousados), nos chapéus que antes me contavam os seus dias.